04 fev A tragédia de Brumadinho e a Saúde e Segurança do Trabalho
A tragédia de Brumadinho (25/01) foi talvez o maior acidente trabalhista da história do Brasil. Mais de 90 mortos e 270 desaparecidos. Isso sem falar dos acidentados que sobreviveram, além dos catastróficos danos ambientais causados por todo lixo tóxico despejado em nosso solo e nossos rios.
O que a Saúde e Segurança do Trabalho, enquanto braço empresarial voltado para a preservação do “capital humano“ tem a aprender com isso? A análise dos fatos passados pode nos fazer evitar (mais) uma tragédia como essa.
As investigações de Mariana mostraram que a empresa e seus representantes sabiam do risco iminente de acidente. E sabia das possíveis consequências. Diretores, equipes de engenharia, segurança do trabalho, agentes do Estado, sabiam que pessoas morreriam e ainda assim, conscientemente decidiram continuar operando com a estrutura precária.
Ignorar ou assumir o risco por priorizar o ganho financeiro em detrimento da saúde e segurança de trabalhadores é prática corriqueira de muitas organizações. Justamente por esse conflito de interesses que imputamos ao Estado o dever de fiscalizar e punir quem desrespeita as normas de Saúde e Segurança do Trabalho. E é por isso também que existem leis que obrigam as empresas a contratar profissionais de Saúde e Segurança do Trabalho para orientar as empresas no caminho da preservação da saúde e vida dos trabalhadores. No caso de Mariana e Brumadinho as empresas corromperam tantos fiscais com profissionais de SST.
Na tragédia de Mariana, os órgãos ambientais e a Justiça impuseram multas financeiras para as empresas envolvidas. Além de ajudar os parentes das vítimas e a diminuição de impactos ambientais, a multa deveria ter um fim pedagógico, justamente por mostrar para a empresa que “não vale a pena pensar só no dinheiro ganho”. Além dos valores fixados sequer “fazerem cócegas” frente ao faturamento bilionário das empresas, a multa sequer foi paga.
Na terça-feira (29), três engenheiros que atestaram a estabilidade da Barragem de Brumadinho foram presos. Além dos laudos fraudados, é sabido que os investimentos em SST foram reduzidos ano a ano pelas empresas. Sinais claros desse desprezo são os fatos de não haver nenhuma sirene de emergência ou plano de evacuação da população vizinha em caso de acidentes. Ou ainda, pelo fato do refeitório e centro administrativo haver sido montado logo “abaixo” da barragem.
Enquanto a Segurança e Saúde do Trabalho for tratada como uma mera “burocracia” ou uma “amarra a produtividade”, viveremos outras tragédias como essas. Segurança não deveria ser um detalhe, mas um valor.
A Segurança do trabalho protege um bem incomparável e inestimável: a vida humana. A sua valorização deve partir do resgate do valor ao ser humano, da sua dignidade e vida que parece ter sido esquecida.
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Foto: AP Photo/Leo Correa
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